100 anos de evolução

“Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil”. A frase icônica de Mário de Andrade deu início à Semana da Arte Moderna de 1922, realizada entre os dias 13 e 17 de fevereiro no Theatro Municipal de São Paulo. O grupo de “modernistas” reunidos no evento visava demonstrar a necessidade imediata de ruptura com o “classicismo europeu” para manifestações artísticas que acompanhassem as mudanças tecnológicas e industriais também enfrentadas pelo Brasil. 

Dentre os primeiros movimentos da arte moderna no mundo, citamos o futurismo, que nasceu a partir da publicação, em 1909, do “Manifesto Futurista” escrito pelo poeta italiano Filippo Marinetti, importante nesta fase pela forma como seu estilo abandonava os limites entre a arte e o design, valorizava a velocidade e o desenvolvimento tecnológico. No Brasil, neste mesmo sentido, vivemos o movimento antropofágico, em que os artistas por suas obras literárias, artísticas e musicais trouxeram uma arte moderna enaltecendo a cultura nacional, sob uma perspectiva centrada no ser humano e na criação.

Em um contexto pós-pandêmico ocasionado pela gripe espanhola, não apenas o Brasil, como o mundo, perpassava por uma sede de viver, o que refletiu diretamente nas inovações tecnológicas, políticas, sociais e culturais, sendo fruto dessa época o cinema, a fotografia, o telefone, o automóvel, as teorias psicanalistas freudianas, dentre outras inovações que acarretaram na identidade do homem “moderno”. 

Hoje, sendo celebrados os 100 anos da Semana da Arte Moderna de 1922, a sociedade se encontra em uma realidade semelhante, em uma condição, de certa forma, pós-pico da pandemia oriunda da Covid-19, em que somos atingidos por um maremoto de avanços tecnológicos, culturais, sociais e políticos. 

Com o passar desses anos, a forma de expressão do ser humano, seja em seu ambiente de trabalho, meio social ou individual, distancia-se cada vez mais da realidade física para uma realidade virtual. A evolução dessa forma de expressão deve ser acompanhada também pelo Direito, na busca da organização da sociedade e de suas condutas para o equilíbrio das relações humanas. Nesse contexto, vale um olhar especial para os direitos relacionados à propriedade, seja ela de bens tangíveis ou intangíveis. 

Se, em 1922, a escrita da poesia de Mário de Andrade escandalizou o público e as obras de Anita Malfatti foram duramente criticada pelos conservadores, em 2022, de forma genuína, incorporamos em nosso dia a dia o uso de QR Codes, audiências virtuais, criptomoedas, comercialização de obras artísticas por tokens não fungíveis (NFTs) e passamos a discutir com curiosidade as incertezas de uma realidade virtual, uma vida no metaverso. 

Por se tratar de ‘tempos líquidos’, pois tudo muda tão rapidamente, como bem esclareceu Zygmunt Bauman, as mudanças da sociedade estão sendo incorporadas de forma natural, com a adaptação do homem “moderno”, que logo passa a discutir e traçar novos modelos para daqui cinco, dez, vinte anos. 

Tal fator é percebido de diversas formas, como os investimentos ESG que direcionam o “capitalismo sustentável” - valorizando empresas que já tenham planos e estratégias futuras relacionadas a questões sociais, ambientais e de governança, e o Metaverso - temática do momento com diversas esferas de discussão - que vem sendo desenvolvido pelas gigantes da tecnologia, como o Grupo Meta e Microsoft. 

Como marco, a Semana da Arte Moderna de 1922 foi o início de uma ruptura que ecoou na sociedade com o passar do tempo, apresentando ao Brasil o homem moderno, a genuína evolução da nossa cultura e inspiração de diversos movimentos, que nos trouxeram importantes conquistas. Em 2022, presenciamos a criação de mais um marco, que mostra o “homem moderno”, seguindo em franca evolução para ser o que inicialmente se desejou: um homem futurista. 

E, para tanto pergunta-se: O futuro começa agora? 

O futuro já começou e para viver o hoje, precisamos aprender a enxergar além. Precisamos enxergar que as relações sociais são e serão tremendamente impactadas. Precisamos enxergar em que medida novas regras são e serão necessárias. Precisamos enxergar como garantir que a sociedade siga de forma sustentável e com os ensinamentos aprendidos por seus movimentos históricos. 

Enfim, que sempre sejamos mais que modernistas, sejamos futuristas!

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